quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Entrevista com a banda Ganeshas

Bruno Keleta, Felipe Genes, Marcelo Castilho e Brenno Quadros

A banda Ganeshas está produzindo o segundo disco. Mas enquanto o disco ainda não fica pronto, o vocalista Brenno Quadros fala sobre como foi tocar na Cidade da Música, conta algumas curiosidades da banda, revela quais são os principais desafios de fazer parte de uma banda independente de rock e muito mais. Confira abaixo a entrevista:

Brenno Quadros

SEGUNDA MÚSICA: De onde partiu a ideia de tocar e gravar ao vivo na Cidade da Música?
BRENNO QUADROS: Nós queríamos gravar um vídeo com uma versão acústica de Botando na Caçamba, valorizando mais o som do violão de aço e as hamonias de voz. O problema é que ainda não sabíamos onde fazer essa gravação. Um dia eu estava passando de carro na frente da Cidade da Música e pensei: por quê não aí?

Uma possível crítica social influenciou na escolha do lugar ou o objetivo da banda era apenas gravar num local esteticamente belo?
A ideia é ser uma provocação mesmo. A Cidade da Música é um elefante branco que há anos consome milhões de reais dos cofres públicos e nunca ficou pronta. Estamos em época de eleições municipais no Rio de Janeiro, em que o próprio filho do Cesar Maia está concorrendo. Acho bacana que o vídeo levante uma discussão saudável sobre o destino dessa obra monumental.

A sonoridade da banda remete muito à música nordestina de Raul Seixas, Luiz Gonzaga... São influências em comum dos integrantes ou essa sonoridade se difundiu espontaneamente na banda?
Apesar de a gente ser carioca, nunca tivemos muita ligação com o samba. Eu sempre gostei mais de festa junina do que de carnaval. Sempre ouvi mais Luiz Gonzaga que Noel Rosa. Às vezes as pessoas até me perguntam se eu sou nordestino.

Como foi a experiência de gravar o clipe da música Jesus através do crowfounding? Como vocês se sentem por ser a primeira banda nacional a gravar um videoclipe por este formato?
A iniciativa do crowdfounding já existe há um tempo nos Estados Unidos e na Europa. O site movere.me veio pro Brasil e nos convidou pra fazer um projeto de inauguração do site. A gente não sabia muito bem o que fazer, se pedia dinheiro para gravar um disco ou outra coisa. Então tivemos a ideia de gravar o clipe da música Jesus. A gente não tinha a menor ideia do dinheiro que a gente ia precisar. Conseguimos arrecadar uma grana boa, apesar de termos juntado boa parte da verba do nosso próprio bolso. Mas foi muito bacana fazer isso. Vai ficar pro nosso currículo.

Ganeshas - Jesus


Apesar de jovens, a banda já existe há mais de 6 anos. O que mudou de lá pra cá?
A formação mudou. Já tivemos duas trocas de guitarrista. Anteriormente éramos 5 músicos, agora somos um quarteto. Queremos gravar um segundo disco que seja muito melhor e mais profissinal que o primeiro, que tinha ainda traços de amadorismo. Estamos tentando tornar as coisas maiores.

Vocês tem se apresentado fora do Rio de Janeiro, no Multishow (Experimente), Globonews (Estúdio i). Como estão sendo essas experiências?
É bom tocar na TV porque a gente precisa ficar conhecido. Aparecer na TV é uma experiência muito boa porque dá uma visibilidade enorme para a banda. Dá uma oportunidade de pessoas de tudo que é canto do Brasil nos conhecer, pessoas que nunca ouviram falar em nós.

Qual foi o melhor show que a banda já fez?
O melhor show foi no MADA, em Natal, em 2009. A gente tocou lá como prêmio por ter ganho a última edição do concurso B de Banda, do Jornal do Brasil. Nesse festival também tocaram bandas que a gente gosta muito como Nação Zumbi, Pitty. Tava muito, muito cheio. A recepção no nordeste é muito mais calorosa que no Rio. Aqui as pessoas ainda tem a postura um pouco blazê em relação à bandas novas. Lá os shows são como acontecimentos. As pessoas pediam autógrafo, puxavam nossas camisas, nosso cabelo. Tivemos um dia de Beatle. Nós temos até um fan clube lá em Natal. Nós tocamos antes das atrações principais, mas o público gostou tanto do show que três meses depois fomos chamados pra tocar lá de novo.

Ganeshas - Botando na caçamba (Ao vivo - MADA, 2009)

E o pior?
Uma vez nós fomos chamados para tocar em Maricá numa estrutura muito tosca, no meio do mato com um palco flutuante que ficava boiando. O Felipe Genes (baterista) teve que escalar os amplificadores para chegar até a bateria. A gente ficou com medo de morrer eletrocutado (risos). Depois de analisar bem o lugar nós fomos falar com o dono que precisávamos ir até o nosso carro pegar os equipamentos de som. Mas na verdade, só entramos no carro e fomos embora. Nem chegamos a tocar. Já teve uma vez também, no começo da banda, que a gente tocou num cartódromo logo antes de uma banda cover de Slipknot. O show foi horrível porque o público tava esperando escutar um som mais pesado, mais heavymetal. Que bom que conseguimos sair vivos de lá.

A música Rua Araucária é trilha da websérie Quero ser solteira. A canção vai fazer parte do próximo disco ela foi composta exclusivamente para a série?
Ela não foi feita pra série. Essa música ficou pronta um pouco depois do lançamento do nosso primeiro disco. A diretora Cláudia Sardinha pediu para a gente escrever uma música sob encomenda para ser a abertura da série e nós apresentamos Rua Araucária para ela. Calhou de a letra fazer algum sentido com o programa. Ela adorou o resultado.

Além do lançamento do próximo álbum quais são os planos da banda para o futuro?
A nossa prioridade agora é exclusivamente produzir o disco. Nós paramos até de fazer show. A gente deve se trancar num estúdio com um produtor nos próximos 3 meses. Mas como consequência a gente deve fazer um clipe para puxar alguma música do próximo álbum. Vai ser um repertório todo novo. Tirando Rua Araucária, serão doze músicas novas.

Qual vai ser a principal diferença do segundo disco do primeiro?
O mais importante é que ele vai ter um trabalho de produção musical profissional. Quem vai fazer é o Luã Mattar, que ficou 5 anos em Boston estudando produção musical. Ele acabou de voltar e o primeiro trabalho que ele quer fazer é o nosso disco. O primeiro disco foi produzido por nós mesmos. A gente gosta das músicas, mas a produção resvala um pouco no amadorismo. No primeiro álbum tem músicas que foram compostas quando eu tinha 16 anos de idade, como Jesus. O Bruno Keleta (guitarrista) compôs A máquina com 16 anos também.

Existe uma previsão de lançamento?
A gente espera que o disco seja lançado até o fim do ano, ou então no começo do ano que vem. Mas ainda estamos na pré-produção. O disco ainda nem tem nome.

Marcelo Castilho e Brenno Quadros

O que cada integrante faz quando não está tocando?
Na banda tem dois engenheiros formados, o Marcelo Castilho (baixista) é formado em Publicidade, eu em Publicidade e Cinema. Cada um exerce a profissão dentro da sua área, mas agora a gente vai dar uma parada com tudo para focar totalmente no nosso próximo disco. Esse disco pode mudar os rumos da banda.

Como você vê o cenário musical independente do Brasil atualmente?
Não conheço tanta coisa, mas tem várias bandas que eu curto como Los Bife, Dorgas, Tereza... O Terno se saiu muito bem no último VMB e isso foi muito animador para  a gente. Estamos até vendo se conseguimos o contato para tentar tocar com eles em São Paulo ou por aqui no Rio.

Que bandas atuais do cenário internacional a banda gosta de ouvir?
 O pessoal da banda é viciado em Radiohead. Eu até gosto, mas não tanto quanto eles. Curto o som do Jack White. Na verdade, eu me acho um dinossauro de 24 anos (risos). Gosto de ouvir Buddy Holly, essas coisas. Um dia desses ia comprar um cd da Florence The Machine, mas não estou muito antenado nessas novidades todas. Preciso me atualizar (risos).

Quais são as principais vantagens e desvantagens de ser uma banda independete?
A vantagem é você ter um controle maior da tua produção autoral. Ou seja, não precisar obedecer demanda da gravadora ou alguém dizendo para você tocar de tal jeito, vestir tal chapéu ou repetir um refrão tantas vezes. Mas por outro lado é muito complicado lidar com isso porque a banda vira uma empresa. Você precisar tomar conta de tudo. Eu cuido desde esse último clipe de “Botando na caçamba” desde a produção, da equipe, da carona, até da capa do próximo disco. É tanto trabalho que às vezes a música fica em segundo plano. Tem muita burocracia e problema administrativo para resolver. Essa questão da música Rua Araucária ser a abertura da série do Multishow rendeu muita papelada de registro. Eu acho que muitas bandas vão desistindo no meio do caminho porque isso é uma coisa chata de fazer. No fundo o que a gente quer mesmo é tocar.

Que conselhos você dá às bandas que estão se lançando no cenário musical independente?
O conselho que eu dou é ter paciência porque dá muito trabalho produzir uma coisa bem feita.

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